A visitação a um templo de Ayutthaya
"Enfadado
com esta vista fui espreitar o que mais havia neste templo, e para grande
espanto achei uma estátua gigante feita de ouro, que era impossível de
acreditar, se não a tivesse visto com os meus olhos. Tem a dita estátua de alto
o suficiente para que quatro, ou cinco homens, se ponham cada um acima do
outro. Os pés estão dobrados ao modo dos ídolos que se acham neste Reyno, e
noutras paragens do Oriente, pela qual razão os sacerdotes, e fiéis, imitam
este modo quando fazem as suas orações.
São os olhos desta estátua muy grandes, e magnificamente
fabricados, assim como a cabeça, os braços, os dedos, e a barriga. No alto
dela, e nos seus ombros largos, pousam de contínuo alguns pombos; posto que uns
estão quietos, e outros levantam voo, em troca dos que se ajuntam aos que já lá
estão.
É esta casa a modo de câmara guardada por um sacerdote
muy cioso dos seus deveres, e que a muy grande custo me deixou entrar para ver
este ídolo, a que os da terra chamam o Grande Deus Suta. Os seguidores desta
idolatria fazem as suas reverências defronte desta estátua, e outras de menos
importância, levantando as suas mãos juntas, e baixando as cabeças um pouco
adiante, a modo de respeito.
Tornando
ao lugar onde o dito sacerdote fazia o seu ministério, e que de nada valia;
porque não livrava tão pobres criaturas de espírito do engano em que já estavam
metidas, calhou em sorte que não demorasse muito até findar a sua arenga, e
indo cada um por onde lhe pareceu melhor, fizeram muitas mulheres a reverência a seus ídolos, que são feitos de todas as
sortes de estátuas; porque são umas obradas de ouro, outras de bronze, e outras de madeira, como os Siames costumam ter
nos seus pagodes”.
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