sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Capítulo XXVI

O que Abenabo conhecia de Jerusálem 

    “Depois de Abenabo me falar miudamente da rua vulgarmente dita da amargura, pela qual Jesus Cristo foi com a Cruz às costas, desde a casa de Pilatos, até ao Calvário, onde foi por nós oferecido, e sacrificado, para a salvação do mundo, ouvi dele com muita curiosidade que o sagrado Monte Olivete fica numa encosta, em que subindo por um certo caminho, e chegando no meio dele, se acha à vista o Templo de Salamão, e quase toda a cidade.

É o dito Monte Olivete, onde o nosso Redentor recebeu a traição de Judas (que o entregou aos Romanos, antes d’Ele ir à casa de Caiphas, e à casa de Pilatos, e daqui ao Calvário), muy venerado por Turcos, e mouros, assim como por cristãos de muitas nações, que se põem ali a orar, e a cantar, e a contemplar, na vigília D’Ascensão de Nosso Senhor.

    Na Capela D’Ascensão fazem os moçalmans grande devoção à pedra onde está uma pegada do Redentor do mundo quando Ele teve por bem tornar aos Céus. A outra metade desta pedra, também com outra pegada de Jesus, está no Templo de Salamão, ali posta quando a terra era de cristãos, sendo agora tida em grande veneração por Turcos, e mouros”.

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Leitura do Dia

“História de Goa (política e arqueológica)”, Vol. II, por Manoel José Gabriel de Saldanha.

“A capela de Sta. Catarina de Alexandria demora entre a cêrca do Arsenal e a do convento de S. Francisco, na rua que, descendo por êste sítio, ia outrora desembocar no Hospital Real. Fundada por Afonso de Albuquerque em 1510, em memória do bom sucesso da tomada de Goa e reedificada pelo governador Jorge Cabral em 1550, foi, mais tarde, ainda reconstruída, sendo nesta ocasião colocada à direita da porta lateral a lápide, que na anterior reconstrução se via sôbre a porta principal, como observou Pyrard, conservando a mesma inscrição –‘ Aqui n’este logar estava a porta por que entrou o Governador Affonso de Albuquerque e tomou esta cidade aos mouros em dia da Sta. Catharina anno 1510, em cujo louvor e memoria o Governador Jorge Cabral mandou fazer esta casa anno 1550 á custa de S.A.’ –“.

Páginas 23-4.

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Momento Quora

"Qual foi a ideia que te disparou a vontade de escrever um de seus livros?"

"Plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. Três coisas que cada pessoa deve fazer durante a sua vida" - José Martí, poeta cubano.

Tudo começou em Junho de 2012, quando fui orador no C&C Clube, em Macau - China, da palestra “Os portugueses no Sião”. No final do evento fui encorajado a escrever um livro sobre o tema da palestra.

Depressa percebi que não ia adiantar nada de novo ao que historiadores, ou investigadores, já tinham avançado. Decidi então escrever um romance histórico sobre um português do século XVI, que deixa o Reino de Portugal e vai para o Oriente, onde vive um sem-número de aventuras.

No primeiro ano escrevi 27 páginas no Word. Foram as mais difíceis de toda a obra. Vivia então em Macau.

Em Abril de 2014, durante uma das recorrentes viagens de fim-de-semana a Bangkok, despertou-me o interesse em centrar parte da história no antigo Reino do Sião, que grosso modo corresponde à actual Tailândia.

Em Setembro de 2018 aceitei uma oferta de trabalho e passei a residir em Bangkok. Foi também nesta grande metrópole asiática que terminei de escrever a minha obra de grande fôlego (são mais de quinhentas páginas).

E foi assim que nasceu O Oriente Místico de Chao Balós, agora disponível na loja online da Amazon. Se tiver oportunidade de ler, entre em contacto comigo e diga-me qual é a sua opinião.

Veja o link no Quora: https://qr.ae/pvWjra

Dia-a-dia em Bangkok

Não é a chuva nem o mau tempo da época da monção que me faz gostar menos de Bangkok 💓💓💓


terça-feira, 20 de setembro de 2022

Efemérides

Se fosse vivo, o poeta Alberto de Lacerda faria hoje 94 anos

(Ilha de Moçambique, 20 de Setembro de 1928 - Londres, 26 de Agosto de 2007)


Seguias Tu Pela Estrada

"Seguias tu pela estrada
e eu seguia plo carreiro:
tão fácil, movimentada;
eu, tão tardo caminheiro.

Os pés à vista de ti
inda mais se me toldavam;
se andava junto ou sem ti
meus sentidos ignoravam.

Ainda sou caminheiro,
ainda vais pela estrada:
sempre mais lento o carreiro,
e tu mais longe na estrada".

in 77 Poemas

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Capítulo XXV

O grande interesse do Tutam de Cantão pelo âmbar

Chegando nós à ilha Tamon, digo aos 14 de Agosto de 1538, esperámos pela necessária autorização do Pio da villa de Nantó, e depois do que nos cumpria aqui seguimos para a dita cidade Cantam, cousa de 18 léguas pelo rio acima, onde por minha conta fiz a comutação de pimenta, âmbar, e outras miudezas, por ricas sedas, ouro, e grande cópia de arroz.

A desembarcação de âmbar causou grande alvoroço no Tutam, que teceu muitas palavras de contentamento com a minha vinda. Assim como prometera ao feitor Jao, que duas semanas antes tinha descarregado um grande carregamento desta mercadoria, também eu teria bom agasalho, tornando a fazer as minhas mercadorias neste porto, onde ia encontrar muy ricas fazendas, com as quais depois de fazer o meu emprego, teria tanto proveito, que fariam de mim o mais abastado da terra donde era natural.

Estranhei o seu grande interesse pelo âmbar; porque valia mais para ele, do que ouro, ou diamantes. Dei o melhor para tirar algumas inquirições sobre este assunto; mas pouco consegui apurar, por se resguardar o Tutam numas lendas de remotas eras, com dragões a carpir lágrimas, que se transformavam em âmbar, e como os Chins são muy idólatras destas serpentes de extraordinária grandeza, reverenciam muito esta mercadoria.

Perdido que estava nos meus pensamentos, dei por mim com os olhos postos numas serpentes tecidas a fios de ouro, que o Tutam, e seus assistentes, traziam nos peitos, e nas costas, e que por divisa são as armas d’el Rey”.

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

"𝐎 𝐎𝐫𝐢𝐞𝐧𝐭𝐞 𝐌í𝐬𝐭𝐢𝐜𝐨 𝐝𝐞 𝐂𝐡𝐚𝐨 𝐁𝐚𝐥ó𝐬", 𝐏𝐞𝐝𝐫𝐨 𝐃𝐚𝐧𝐢𝐞𝐥 𝐝𝐞 𝐎𝐥𝐢𝐯𝐞𝐢𝐫𝐚, 𝐌𝐚𝐢𝐨 𝟐𝟎𝟐𝟐.

Leia a história de um português do século XVI que deixa o Reino de Portugal e se aventura no Oriente distante onde conhece Fernão Mendes Pinto, Luís Vaz de Camões e S. Francisco Xavier: https://www.amzn.com/B09Y6B8Y5Q

quarta-feira, 14 de setembro de 2022

terça-feira, 13 de setembro de 2022

“O Oriente Místico de Chao Balós” – Personagens

 Damião de Góis, o amigo de infância

Damião de Góis surge no meu romance histórico logo na fase inicial da narrativa. Nasceu na vila de Alenquer, em 1502. É amigo de infância de João de Barros, o herói da trama, e cresceram praticamente juntos, até o futuro humanista ser levado para o Paço Real, no reinado de D. Manuel I.

João de Barros ainda se cruzou com ele uma última vez, agora em Lisboa, pouco antes de embarcar na nau que o levaria à Índia. Foi um encontro emotivo, com lágrimas derramadas, de parte a parte, antes do definitivo adeus.

Damião de Góis viria a ter uma brilhante carreira como diplomata ao serviço da Coroa, já depois de servir na feitoria portuguesa de Flandres.

Viajou por vários países europeus e conheceu vultos da época, tais como Martinho Lutero, Erasmo de Roterdão, Albrecht Dürer, Giovanni Battista Ramusio e Inácio de Loyola, entre outros.

De regresso a Portugal, escreveu as crónicas dos reinados de D. Manuel I e de D. João III.

Foi acusado de herege pela Inquisição e sujeito a um prolongado processo judicial. Acabou preso e foi depois libertado em Dezembro de 1572. Estava bastante doente.

Viria a falecer no mês seguinte, em circunstâncias misteriosas, na terra que o viu nascer. Tinha 71 anos de idade.

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Leitura do Dia

“Inéditos Goesianos, arquivos de família – I”, por Guilherme João Carlos Henriques (da Carnota).


𝐄𝐬𝐭𝐫𝐚𝐜𝐭𝐨 𝐝𝐨 𝐥𝐢𝐯𝐫𝐨 𝐝𝐚 𝐦𝐚𝐭𝐫𝐢𝐜𝐮𝐥𝐚 𝐝𝐨𝐬 𝐂𝐨𝐧𝐟𝐫𝐚𝐝𝐞𝐬 𝐝𝐚 𝐑𝐞𝐚𝐥 𝐂𝐚𝐬𝐚 𝐝𝐨 𝐄𝐬𝐩𝐢𝐫𝐢𝐭𝐨 𝐒𝐚𝐧𝐭𝐨 𝐝𝐞 𝐀𝐥𝐞𝐦𝐪𝐮𝐞𝐫

Anno de 1549

Mordomo Pedro Gouvêa,

D. Joanna de Argem, mulher de Damião de Goes, com seus filhos,

Manoel, Ambrosio, Ruy Dias, e Catharina Goes.

Mais se metteram por Confrades os filhos do Senhor Damião,

Bastardos, 

Manoel, Isabel, Maria.

𝐂𝐞𝐫𝐭𝐢𝐝ã𝐨 𝐝𝐨 𝐞𝐧𝐭𝐞𝐫𝐫𝐚𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 𝐝𝐞 𝐃𝐚𝐦𝐢ã𝐨 𝐝𝐞 𝐆𝐨𝐞𝐬

Año de 1575

Aos XXX. Dias do mes de Janrro do año de jbe lxxiiij años faleceu damiao de guoes e foi enterrado na capela mor desta jgra e por verdade o asiney dia e mes e año ut supra. Eu

Luiz Velho.

(Documento do Cartorio da Igreja de Sta Maria da Varzea em Alemquer.)"

Página 37.

quinta-feira, 8 de setembro de 2022

Capítulo XXIV

Vida em risco numa aldeia da ilha de Samatra:

“No outro dia fomos à aldea prover o necessário para a carregação da pimenta, e depois de tudo feito, dei ordem aos que comigo vinham para esperarem à beira do batel, pois queria privar um pouco mais com o Reyzinho; mas como no espaço de uma hora completa ele foi cometido com muitas dores nas entranhas, logo se recolheu para dentro de sua casa, e me mandou agasalhar numa outra casa de um honrado mercador da sua aldea. Chegava o tempo de pôr os olhos numa formosa moça, que muito me atraía, desde a minha primeira vinda no ano passado…

Na manhã do outro dia cheguei à praia em grande alvoroço. Corria com todas as pressas, já que em minha perseguição tinha quase todos os homens da aldea, e como para muita confusão minha o batel estava em seco, com tamanha aflição dei uma grita para os mandriões (que ao longe havia vista) se apressarem a pôr ombros ao batel, e o lançar à água. Havia que fugir deste lugar abominável, o quanto antes, para evitar que a morte se aproximasse a passos vistos de todos nós.

Tanto as gritas, como as lanças, e frechas, que saíam das mãos dos que vinham nas minhas costas, puseram em sobressalto os que estavam de guarda ao batel. Dei outra grita para o bombardeiro tirar nos malvados, que nada mais queriam, do que pôr termo à vida deste honrado capitão. Se não mostrássemos valentia, passaríamos todos por grandes tormentas, com o irremediável dano de não termos como nos encomendar a Deus”.

Monarquia - Rainha Isabel II

Faleceu hoje a Rainha Isabel II do Reino Unido (1926-2022)

Sempre vi nela um modelo de simpatia, de união, de ponderação e de perseverança. Tinha uma qualidade excepcional: saber quando devia estar votada ao silêncio. O seu guarda-roupa era excepcional, de bom gosto mesmo! Será lembrada por muito e muito tempo. RIP 😢




quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Momento Quora

 Qual o melhor livro que você leu quando era criança?

Foi o livro de banda desenhada intitulado “O Cão dos Baskervilles”, tendo como protagonistas o famoso detective Sherlock Holmes e o Doutor Watson.

Fiquei fascinado durante anos com o mistério ocorrido de noite numa charneca e com o enredo em geral. O desenho de alta qualidade também ajudou. Fazia parte da colecção “Clássicos em Banda Desenhada – Biblioteca RTP”, da Editorial Pública (1985).

Mais tarde li a colecção inteira das "Aventuras de Sherlock Holmes", agora em texto corrido.

Os livros pertenciam a um amigo, que me ia emprestando à medida que acabava de ler um. Lembro-me do cheiro da capa e das folhas. Algo único, que ficou gravado na minha memória.

Rapidamente, aprendi a transpor para a vida real o método de Sherlock Holmes, assente na capacidade de observação, capacidade de dedução e conhecimento; e posso dizer que tive muito sucesso, até mesmo entre alguns colegas de turma do ensino secundário, que me punham à prova de variadíssimas maneiras.

Um dos sucessos imediatos foi ler o livro "O Homem do Lábio Torcido" e resolver o mistério ainda antes do autor Sir Arthur Conan Doyle apresentar a solução final para o enredo. Senti-me triunfante!

Na RTP passaram, entretanto, as séries "As Aventuras de Sherlock Holmes" e "O Retorno de Sherlock Holmes", da Granada Television, brilhantemente interpretadas por Jeremy Brett, no papel do famoso detective da 221B Baker Street, em Londres, e por David Burke (1984–1985) e Edward Hardwick (1986–1994), como Doutor Watson.

Também fui influenciado pelo inspector Artur Varatojo com a rubrica “ABC do Crime”, do programa “Ponto por Ponto” da RTP, em que fazia sempre uma pergunta e quem acertasse recebia um prémio. Na semana seguinte tinha por hábito anunciar o nome dos vencedores. Neste caso, fui o único a responder acertadamente - Como surgiu o nome de Sherlock Holmes? - e recebi um livro policial autografado de sua autoria.

Em 2005, e depois em 2015, visitei o "Museu Sherlock Holmes", situado na Baker Street, em Londres, com todas aquelas decorações da época vitoriana. Cumpri, assim, o desejo antigo de visitar o museu, quando vi o inspector Artur Varatojo a descrever a sua visita guiada na rubrica “ABC do Crime”.

Tornei-me saudosista e há alguns anos revi as séries da Granada Television no YouTube.

Só de lembrar que tudo começou com a leitura de um livro de banda desenhada…

Veja o link no Quora: https://qr.ae/pvOnir

Ditos & Citações

 Acreditar :)


domingo, 4 de setembro de 2022

Leitura do Dia

 “Descrição da Cidade de Lisboa”, de Damião de Góis.


[O 6.º Edifício: A Casa de Ceuta. Casa da Índia]                                                        

No canto ocidental deste terreiro, deixando para trás a referida praça do peixe, e passado o mercado dos padeiros, dos vendedores de hortaliça e de fruta, o mercado das aves e a praça dos comestíveis, fica situado um edifício, a que nós chamamos Casa de Ceuta, onde os comissários régios dão despacho às questões relativas à guerra de África.

Não longe desta casa, num renque contíguo de edifícios, ergue-se o sexto monumento, realizado de feição maravilhosa, repleto de abundantes presas e despojos de muitas gentes e povos.

Por ali se tratarem os negócios da Índia, o nosso povo dá-lhe o nome de Casa da Índia”.

Página 52.

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

O Oriente Místico de Chao Balós, Cap. XXIII

Trato no porto de Pacém na ilha de Samatra:

Estando eu defronte da casa de nossa Senhora do Outeiro, veio a par de mim o pajem de Dom Estêvão da Gama, com recado para aparelhar o junco com todas as pressas; porque tinha de ir a Pacem, na ilha Çamatra, carregar muy boa pimenta, e outras especiarias, que muito ganho me trariam. Antes de tudo havia que ir à fortaleza, pois era lá que o capitão da cidade me falaria miudamente da empresa que me tencionava encomendar.

Assaz confuso com este recado, me fui com muita pressa a ver de Dom Estêvão da Gama, o qual me recebeu com mostras de muita amizade, e grande alegria. A par dele estava um abastado mercador de Malaca, acompanhado de seu feitor, um Jao de nação. Dom Estêvão da Gama lhes disse ser eu homem de muy grande fama, e como era muito solto a navegar por esses mares afora, escapara sempre da Armada do Turco, e das embarcações de outras nações com as quais el Rey, nosso senhor, tinha guerra.

Pasmado com tais palavras, tolheu-me o pensamento, por não entender o seu propósito. Com a sua voz grave logo me cortou as ideias, dizendo que havia um negócio que me traria grandes ganhos, se fosse a Paceem, e me deixasse lá estar muito devagar para miudamente saber cousas do Reyno do Achem, e achar informação sobre a ilha do ouro, por toda a gente natural, ou forasteira, que alguma cousa disso tivesse conhecimento”.

❤️❤️❤️