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segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Leitura do Dia

Às vezes, apetece-me ler o meu romance histórico no telemóvel / celular. Invariavelmente pela manhã. Hoje foi um desses dias…

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Leitura do Dia

“Alenquer Medieval (Séculos XII – XV)”, de João Pedro Ferro.

                    “𝐎𝐬 𝐚𝐫𝐫𝐚𝐛𝐚𝐥𝐝𝐞𝐬 - 𝐒𝐏𝐞𝐝𝐫𝐨                   

Quem viesse de Lisboa em direcção a Alenquer, subia a encosta até ao arrabalde de S. Pedro e entrava pela Porta da Vila no recinto amuralhado. Foi por aí que D. Leonor de Teles entrou, quando se refugiou em Alenquer:

𝘈 𝘙𝘢𝘪𝘯𝘩𝘢 𝘤𝘩𝘦𝘨𝘰𝘶 𝘢 𝘈𝘭𝘷𝘦𝘳𝘤𝘢 𝘤𝘰𝘮 𝘵𝘳𝘪𝘨𝘰𝘴𝘰 𝘢𝘮𝘥𝘢𝘳 𝘦 𝘢𝘭𝘪 𝘤𝘰𝘮𝘦𝘰; 𝘦 𝘥𝘢𝘭𝘭𝘪 𝘱𝘢𝘳𝘵𝘪𝘰 𝘦 𝘧𝘰𝘪 𝘥𝘰𝘳𝘮𝘪𝘳 𝘢 𝘈𝘭𝘭𝘢𝘮𝘲𝘶𝘦𝘳; 𝘦 𝘲𝘶𝘢𝘮𝘥𝘰 𝘦𝘮𝘵𝘳𝘰𝘶 𝘱𝘦𝘭𝘭𝘢 𝘱𝘰𝘳𝘵𝘢 𝘥𝘢 𝘷𝘪𝘭𝘭𝘢 𝘥𝘪𝘴𝘴𝘦 𝘎𝘰𝘮ç𝘢𝘭𝘭𝘰 𝘔𝘦𝘦𝘯𝘥𝘦𝘻 […]’.

         este foi também o percurso do Mestre numa das vezes que esteve em Alenquer:

𝘖 𝘔𝘦𝘦𝘴𝘵𝘳𝘦 𝘤𝘰𝘮𝘰 𝘤𝘩𝘦𝘨𝘰𝘶 𝘢 𝘩𝘶𝘢 𝘦𝘨𝘳𝘦𝘫𝘢 𝘲𝘶𝘦 𝘤𝘩𝘢𝘮𝘰𝘮 𝘚𝘢𝘮𝘵𝘰 𝘚𝘱𝘪𝘳𝘪𝘵𝘰, 𝘲𝘶𝘦 𝘩𝘦 𝘦𝘮 𝘩𝘶𝘶 𝘤𝘩ã𝘰, 𝘢ç𝘦𝘳𝘤𝘢 𝘥𝘰 𝘳𝘳𝘪𝘰 𝘲𝘶𝘦 𝘤𝘰𝘳𝘳𝘦 𝘢 𝘳𝘳𝘦𝘥𝘰𝘳 𝘥𝘢 𝘷𝘪𝘭𝘭𝘢, 𝘳𝘳𝘦𝘤𝘰𝘭𝘩𝘦𝘰 𝘢 𝘴𝘴𝘪 𝘴𝘶𝘢 𝘨𝘦𝘮𝘵𝘦; 𝘥𝘦𝘴𝘪 𝘧𝘰𝘪 𝘱𝘦𝘳 𝘩𝘶𝘢 𝘤𝘰𝘮𝘱𝘳𝘪𝘥𝘢 𝘤𝘢𝘭ç𝘢𝘥𝘢 𝘢ç𝘪𝘮𝘢, 𝘦 𝘱𝘰𝘶𝘴𝘰𝘶 𝘦 𝘩𝘶𝘶 𝘮𝘰𝘦𝘴𝘵𝘦𝘪𝘳𝘰 𝘥𝘦 𝘚𝘢𝘮 𝘍𝘳𝘢𝘯ç𝘪𝘴𝘤𝘰 𝘲𝘶𝘦 𝘩𝘪 𝘩á.’” - Página 61.

sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Capítulo XXVI

O que Abenabo conhecia de Jerusálem 

    “Depois de Abenabo me falar miudamente da rua vulgarmente dita da amargura, pela qual Jesus Cristo foi com a Cruz às costas, desde a casa de Pilatos, até ao Calvário, onde foi por nós oferecido, e sacrificado, para a salvação do mundo, ouvi dele com muita curiosidade que o sagrado Monte Olivete fica numa encosta, em que subindo por um certo caminho, e chegando no meio dele, se acha à vista o Templo de Salamão, e quase toda a cidade.

É o dito Monte Olivete, onde o nosso Redentor recebeu a traição de Judas (que o entregou aos Romanos, antes d’Ele ir à casa de Caiphas, e à casa de Pilatos, e daqui ao Calvário), muy venerado por Turcos, e mouros, assim como por cristãos de muitas nações, que se põem ali a orar, e a cantar, e a contemplar, na vigília D’Ascensão de Nosso Senhor.

    Na Capela D’Ascensão fazem os moçalmans grande devoção à pedra onde está uma pegada do Redentor do mundo quando Ele teve por bem tornar aos Céus. A outra metade desta pedra, também com outra pegada de Jesus, está no Templo de Salamão, ali posta quando a terra era de cristãos, sendo agora tida em grande veneração por Turcos, e mouros”.

terça-feira, 20 de setembro de 2022

Efemérides

Se fosse vivo, o poeta Alberto de Lacerda faria hoje 94 anos

(Ilha de Moçambique, 20 de Setembro de 1928 - Londres, 26 de Agosto de 2007)


Seguias Tu Pela Estrada

"Seguias tu pela estrada
e eu seguia plo carreiro:
tão fácil, movimentada;
eu, tão tardo caminheiro.

Os pés à vista de ti
inda mais se me toldavam;
se andava junto ou sem ti
meus sentidos ignoravam.

Ainda sou caminheiro,
ainda vais pela estrada:
sempre mais lento o carreiro,
e tu mais longe na estrada".

in 77 Poemas

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Leitura do Dia

“Inéditos Goesianos, arquivos de família – I”, por Guilherme João Carlos Henriques (da Carnota).


𝐄𝐬𝐭𝐫𝐚𝐜𝐭𝐨 𝐝𝐨 𝐥𝐢𝐯𝐫𝐨 𝐝𝐚 𝐦𝐚𝐭𝐫𝐢𝐜𝐮𝐥𝐚 𝐝𝐨𝐬 𝐂𝐨𝐧𝐟𝐫𝐚𝐝𝐞𝐬 𝐝𝐚 𝐑𝐞𝐚𝐥 𝐂𝐚𝐬𝐚 𝐝𝐨 𝐄𝐬𝐩𝐢𝐫𝐢𝐭𝐨 𝐒𝐚𝐧𝐭𝐨 𝐝𝐞 𝐀𝐥𝐞𝐦𝐪𝐮𝐞𝐫

Anno de 1549

Mordomo Pedro Gouvêa,

D. Joanna de Argem, mulher de Damião de Goes, com seus filhos,

Manoel, Ambrosio, Ruy Dias, e Catharina Goes.

Mais se metteram por Confrades os filhos do Senhor Damião,

Bastardos, 

Manoel, Isabel, Maria.

𝐂𝐞𝐫𝐭𝐢𝐝ã𝐨 𝐝𝐨 𝐞𝐧𝐭𝐞𝐫𝐫𝐚𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 𝐝𝐞 𝐃𝐚𝐦𝐢ã𝐨 𝐝𝐞 𝐆𝐨𝐞𝐬

Año de 1575

Aos XXX. Dias do mes de Janrro do año de jbe lxxiiij años faleceu damiao de guoes e foi enterrado na capela mor desta jgra e por verdade o asiney dia e mes e año ut supra. Eu

Luiz Velho.

(Documento do Cartorio da Igreja de Sta Maria da Varzea em Alemquer.)"

Página 37.

segunda-feira, 1 de agosto de 2022

sábado, 30 de julho de 2022

Capítulo XIV

Do que sucedeu até Dom Vasco da Gama falecer em Cochim:

“Como a enfermidade avançava, e o espírito desfalecia de forças, quis Dom Vasco da Gama se passar para as casas de Diogo Pereira (perto do terreiro da igreja), e prover o necessário para que Lopo Vaz de Sampayo, capitão de Cochim, mandasse após a sua morte, o mesmo que mandava o Viso-Rey, até o sucessor receber a governação da India. Mandando fazer um assento, deu juramento a Lopo Vaz, ao Veador da Fazenda, digo Affonso Mexia, e ao secretário Vicente Pegado, assinando todos o auto. E fazendo a sua confissão tomou o Santo Sacramento, e fez o testamento, no qual mandava que os seus filhos, Dom Estêvão, e Dom Paulo, fossem nas naus para o Reyno, e cumprissem com o que deixava determinado sobre algumas cousas particulares. Para as mulheres que foram açoutadas em Goa mandou cem mil réis, cada uma, sendo isto feito em muito segredo, conforme a sua vontade.

Estando as cousas da sucessão assentes assim como as cousas de bom católico cristão, veio a hora de Dom Vasco da Gama se ajuntar ao Criador, digo às três horas depois da meia noite do dia vinte e cinco do ano de 1524 (paz à sua alma!), que era o da festa do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. A triste nova foi sentida com muy grandes choros, e prantos, assim que seus filhos, e criados, fizeram o sinal da sua morte, enchendo-se o terreiro da igreja com todo o povo da cidade”.


quarta-feira, 27 de julho de 2022

Capítulo XIII

Chegada de Dom Vasco da Gama, Vice-rei da Índia, a Goa:

“Para atalhar um pouco o sucedido, fica aqui escrito que o Viso-Rey chegou no cabo de Setembro a Goa, onde foi recebido com grande pompa, e solenidade, da forma que requeria o seu título. Após ser levado em procissão à Sé, onde não compareceu o Bispo Dom Martinho, por jazer doente em casa, foi Dom Vasco da Gama levado à fortaleza pelo capitão da cidade, que o tinha ido visitar à barra. E estando miudamente informado sobre as grandes acusações que tinham ido a el Rey, ao entrar na fortaleza soltou estas palavras:

– Senhor Francisco Pereira, assim quisera eu achar bem concertadas todas as vossas cousas assim como estão estas casas”.

terça-feira, 26 de julho de 2022

Capítulo XII

Caça aos diamantes:

“Tomado por uma grandíssima alegria tratei logo de ir com todas as pressas à casa de morada de Ruffino do Salvador, no arrabalde da Porta da Cidade para o Mandovim, para saber se me iria conceder um empréstimo em dinheiro, que depois lhe pagaria com bons juros. Após ouvir o que tinha para lhe contar, abanou a sua cabeça, e torceu o nariz com os dedos, por não estar certo do nosso sucesso, e por muito temer a perda dos seus cabedais assim de maneira tão arriscadíssima.

Falando-lhe do Português, que nos iria acompanhar nesta empresa, logo me perguntou se era pessoa de ricas fazendas? Ficando sabedor que não, bateu duas vezes a palma da mão na testa, e estranhou todo este caso, pois se o dito Português sabia como caçar diamantes; porque não se adiantaria ele à sua procura, em vez de ter que os repartir connosco? Como tive lembrança que as serpentes no vale profundo eram a dificuldade maior de todo este negócio, talvez lhe faltasse estofo, e coragem, que muito me sobejava. Ainda que Ruffino do Salvador não dissesse a razão; porque também não sabia como a explicar, me deu por seu conselho para que não largasse, por nenhum motivo, a espingarda das mãos, no tempo que andássemos enfiados no sertão”.

domingo, 24 de julho de 2022

Leitura do Dia

"Os Portugueses e o Sião no Século XVI", de Maria da Conceição Flores.


"RELIGIÃO E COSTUMES

Nos relatos portugueses podemos encontrar igualmente bastantes informações acerca dos costumes e da religião praticada pelos Siameses, pormenores que interessavam bastante a um Portugal e a uma Europa desejosos de conhecer notícias exóticas sobre os novos e velhos mundos recém-descobertos.

De uma maneira geral, os Siameses são considerados como homens honrados, que se expressavam com modéstia. Andavam nus da cintura para cima e cobriam a parte inferior do corpo com panos de algodão, ou então vestiam umas roupas de seda. Usavam geralmente a cabeça rapada, deixando apenas umas guedelhas de cabelo sobre a face".

Página 131.


sexta-feira, 22 de julho de 2022

"O Oriente Místico de Chao Balós", Cap. XI

Chegada a Goa:

“Na manhã seguinte vimos muitas toninhas, várias borboletas, e algumas cobras, sem avistarmos terra firme. À tarde foi lançado o prumo ao mar, o qual tomou o fundo a 50 braças. Não tardámos a ver os Ilhéus Queimados, que são muitos; ainda que só dez deles se levantam a boa altura. E como neles nada cresce, pois são rochedos estéreis plantados no mar, e estão faltos de água, ficaram conhecidos por este nome de Ilhéus Queimados.

Andando mais dez léguas de caminho, surgimos na barra de Goa no primeiro dia do mês de Abril [de 1524], e sendo Diogo da Silveira visitado pelos mais importantes da cidade, lhe disseram que nos detivéssemos aqui alguns dias; porque era necessário assegurar que nenhuma maleita fosse levada para a cidade nem que a povoação sofresse de algum mal.

Passando este tempo entrou a capitânia pelo rio acima embandeirada com formosas bandeiras, e estandartes de seda. Após salvar a fortaleza com grande estrondo, chegou Diogo da Silveira ao cais, para aqui desembarcar ao som de muitos instrumentos. À sua espera estava o capitão de Goa, digo Francisco Pereira Pestana, assim como os vereadores, e oficiais da cidade, sendo recebido com grandes cortesias”.

quarta-feira, 20 de julho de 2022

Capítulo X

Cabo das Agulhas e Cabo das Correntes:

“A jornada continuava a tirar esta minha pessoa das muitas ignorâncias que tinha do mundo, ao ficar agora a saber pelo nosso piloto mor que o promontório do cabo das Agulhas ganhara este nome, por ser nesta paragem que as agulhas de marear feriam nos verdadeiros pollos do mundo; porque olhavam contra o Norte. Na manhã do outro dia fomos atingidos por um vento rijíssimo de causar muito enjoo, abrandavam um bocado as cargas de neve, que caíam no mar oceano fazia dois dias.

Abalados pelos contrastes que nos sobrevieram, fomos forçados a nos apartar, uns dos outros, andando cada nave da Armada pelo caminho que melhor lhe pareceu. E como o frio me apoquentava a carne, chegou a febre acesa neste tempo, pela qual razão fiquei recolhido no camarote, até chegarmos a Moçambique. Só Deus, Nosso Senhor, sabe os muitos trabalhos que a nau Salvador passou para governar ao longo da costa; porque as grandes correntes de águas muito rijas [que vinham do Cabo das Correntes] faziam a embarcação descair muito a Sudueste”.


terça-feira, 5 de julho de 2022

Leitura do Dia

"The Palace Law of Ayutthaya and the Thammasat - Law and Kingship in Siam"

Um raro e importantíssimo livro que tive a felicidade de adquirir para conhecer e perceber a vida em Odiaa (Ayutthaya), capital do Reino do Sião, actual Tailândia, a partir de 1351, até à sua queda às mãos dos birmanes, em 1767.


"Atribuições Impróprias

80 - Quaisquer cortesãos que se reúnam para beber licor, jogar ou ter luta de galos e sejam vistos por outros, que se imponha uma pena suspensa.

81 - Se um oficial do palácio traseiro se for encontrar com um cortesão ou soldado, é condenado à morte.

82 - Se um governador de cidade se for encontrar com outro governador de cidade numa cidade é condenado à morte".


Página 98 (traduzido do inglês).



quarta-feira, 29 de junho de 2022

"A Famosa" em Malaca

"Após a minha desembarcação provi o necessário para ter uma casa muy boa dentro dos muros, ali nas imediações da nobre fortaleza, com sua torre de menagem de cinco sobrados por altura, e um coruchéu coberto de chumbo, à qual torre Affonso D’Albuquerque lhe pôs o nome a Famosa".

In O Oriente Místico de Chao Balós, Cap. XXII





Fotos tiradas a 24 de Dezembro de 2014.

segunda-feira, 20 de junho de 2022

Descrição de Mascate

 O Oriente Místico de Chao Balós (excerto):

"Estávamos no ano de 1530 quando me meti no mar Arabio a caminho de Mascáte, a tão muy grande e populosa villa da Arabia Feliz, bem apercebida de cerca, torres, e baluartes; a qual jaz no meio de grandes, e ásperas serras, com a frente perto da borda de água. Detrás de suas costas, ali contra o sertão, fica uma grande planície com panelas de sal, hortas, palmares de tâmaras, e poços de boa água doce. É terra de muita quentura nos meses do verão.

O vento quente, que num rastro de areia sopra do interior do sertão para o Ponente de Mascate, somente a muito custo não nos faz ficar faltos de ar. No tempo das calmas quase nunca está coberto o sol, desde o seu raiar, até ser noite caída, e acontece isto vários meses de contínuo. O sol brilha tão fortemente, que os ofícios que cada um tem a seu cargo, e as cousas particulares, não sucedem a céu descoberto nas horas do meio dia, sob pena de causar muitos danos à saúde de cada um". 

Capítulo XIX


sexta-feira, 10 de junho de 2022

Camões esteve em Macau?

Assinala-se hoje em Portugal, e um pouco por toda a diáspora portuguesa, o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. 

A efeméride do 10 de Junho coincide com o falecimento do vate Luiz Vaz de Camões, expoente máximo da literatura portuguesa, que tão bem retratou a epopeia dos Descobrimentos Portugueses na sua obra "Os Lvsiadas".

Luiz Vaz de Camões é protagonista no meu romance histórico, ao cruzar-se com o herói João de Barros (Chao Balós) em Goa e descobrirem que partilham algo em comum. O vate é também figura de destaque mais adiante, pois de forma ficcionada refiro se esteve ou não em Macau.



quarta-feira, 8 de junho de 2022

"O Oriente Místico de Chao Balós", Cap. II

Lisboa, Metrópole do Reino de Portugal:

"Como ainda não tinha saciado a fome, ao atravessar para a outra banda da rua não fiz caso de um saloio, que por seu mester vendia frutas; porque em indo mais avante comprei favas cozidas a uma negra. Para matar a sede fiz sinal a um aguadeiro negro, a modo de pousar o cântaro no chão, e encher um púcaro com água. Agradecendo-me, assim que lhe paguei, lá se foi ele, por seu pé, apregoando pela rua:

– Água fria! Água fria! Quem quer água fria!

Como era grande a soma de negros, e negras, que vestiam umas tangas andrajosas, e carregavam cântaros com água tirada dos chafarizes! A cidade de Lisboa estava inundada destas gentes, que vendiam toda a sorte de comer nas barracas, soleiras das portas das casas de seus amos, e escadas dos edifícios públicos, ou quando procuravam fregueses nas ruas, e praças, desta Metrópole do Reyno.

Ao chegar a uma certa rua, já depois de pôr o rosto num vendedor de carvão, e noutro de palha, cada um puxando esforçadamente a sua carreta, dei com dois homens de aspecto repugnante, a fazer de comer com sardinhas a céu aberto. Era muito improvável que tão pobres criaturas, roupadas com seus buréis pardos de lã meirinha encardida, tivessem como comer as galinhas, e carnes de criação, ou de caça, tão pouco com cheiros, adubos, e temperos de boa qualidade; porque nada mais lhes entrava dentro de suas bocas, do que sardinhas, e legumes, assim como algumas castas de frutas, e pão com paladar sofrível".


segunda-feira, 6 de junho de 2022

"O Oriente Místico de Chao Balós", Cap. I

 Origem do nome da vila de Alenquer:

"Nas costas da villa, pela metade do outeiro por esta banda fica a Igreja de Santiago, fundada por el Rey Dom Affonso Henriquez, em memória da ajuda, e socorro, que teve de tão glorioso Santo Apóstolo, defronte da porta aonde as suas gentes (valentes, e esforçados cristãos) deram com tanto ímpeto nos mouros, que os desbarataram, e lhes tomaram o Castelo.

Foi este feito muito celebrado; porque el Rey gastara dois meses no cerco, e como não havia maneira de tomar a fortaleza aos mouros, pois a tudo resistiam, pediu um sinal a Deus para lhe dizer quando chegaria o momento de fazer o assalto. Na manhã do dia de São João surgiu no arraial, diante d’el Rey, um cão pardo, alam de raça, que sempre vigiava a villa. Fazendo-lhe Dom Affonso Henriquez muitas festas com suas mãos, nada ladrou o dito cão, e se foi lentamente para a banda da cerca. Vendo nisto o sinal de Deus fez el Rey uma fala desta maneira aos seus homens:

– Vide meus bons cavaleiros, e amigos! O Alam quer! O Alam quer! Animai os vossos corações; porque Deus nos dá confiança de nossos trabalhos, e fadigas, aqui passados serem cousas que não mais afronta nem perigo nos darão. Convosco ficará hoje a villa em nossas mãos; porque por este Alam nos deu testemunho Nosso Senhor.

E para que este feito não ficasse em perpétuo esquecimento tomou esta formosa villa o nome Alamquer...”


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