Lisboa, Metrópole do Reino de Portugal:
"Como ainda não tinha saciado a fome, ao atravessar
para a outra banda da rua não fiz caso de um saloio, que por seu mester vendia
frutas; porque em indo mais avante comprei favas cozidas a uma negra. Para
matar a sede fiz sinal a um aguadeiro negro, a modo de pousar o cântaro no
chão, e encher um púcaro com água. Agradecendo-me, assim que lhe paguei, lá se
foi ele, por seu pé, apregoando pela rua:
– Água fria! Água fria! Quem quer água fria!
Ao chegar a uma certa rua, já depois de pôr o rosto num vendedor de carvão, e noutro de palha, cada um puxando esforçadamente a sua carreta, dei com dois homens de aspecto repugnante, a fazer de comer com sardinhas a céu aberto. Era muito improvável que tão pobres criaturas, roupadas com seus buréis pardos de lã meirinha encardida, tivessem como comer as galinhas, e carnes de criação, ou de caça, tão pouco com cheiros, adubos, e temperos de boa qualidade; porque nada mais lhes entrava dentro de suas bocas, do que sardinhas, e legumes, assim como algumas castas de frutas, e pão com paladar sofrível".
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