quarta-feira, 8 de junho de 2022

"O Oriente Místico de Chao Balós", Cap. II

Lisboa, Metrópole do Reino de Portugal:

"Como ainda não tinha saciado a fome, ao atravessar para a outra banda da rua não fiz caso de um saloio, que por seu mester vendia frutas; porque em indo mais avante comprei favas cozidas a uma negra. Para matar a sede fiz sinal a um aguadeiro negro, a modo de pousar o cântaro no chão, e encher um púcaro com água. Agradecendo-me, assim que lhe paguei, lá se foi ele, por seu pé, apregoando pela rua:

– Água fria! Água fria! Quem quer água fria!

Como era grande a soma de negros, e negras, que vestiam umas tangas andrajosas, e carregavam cântaros com água tirada dos chafarizes! A cidade de Lisboa estava inundada destas gentes, que vendiam toda a sorte de comer nas barracas, soleiras das portas das casas de seus amos, e escadas dos edifícios públicos, ou quando procuravam fregueses nas ruas, e praças, desta Metrópole do Reyno.

Ao chegar a uma certa rua, já depois de pôr o rosto num vendedor de carvão, e noutro de palha, cada um puxando esforçadamente a sua carreta, dei com dois homens de aspecto repugnante, a fazer de comer com sardinhas a céu aberto. Era muito improvável que tão pobres criaturas, roupadas com seus buréis pardos de lã meirinha encardida, tivessem como comer as galinhas, e carnes de criação, ou de caça, tão pouco com cheiros, adubos, e temperos de boa qualidade; porque nada mais lhes entrava dentro de suas bocas, do que sardinhas, e legumes, assim como algumas castas de frutas, e pão com paladar sofrível".


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