sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

"O Oriente Místico de Chao Balós", Cap. XXXIV

Um modo de fazer justiça no Sião

"Uma multidão de gente, digo passante de cinco mil pessoas, entre grandes, pequenos, e estrangeiros, se ajuntou ao derredor deste modo de tribunal, que por ordinário se faz numa praça pública perto do palácio, a modo de ver esta justiça, que tem muito de superstição, e pouco de razão.

Acabando a sua oração, e levantando-se cada uma, coube a um brâmane o exame dos pés das duas mulheres, e não achando deformação, nem cousa suspeitosa, fez-lhes sinal para caminharem descalças no seu carreiro, por cima do carvão abrasado. Quem assim fizesse sem dor, nem ferida, seria achada honrada neste caso; mas quem desistisse, e tivesse os seus pés em dor, e queimados, seria culpada de tão pecaminoso acto, que tanto podia ser o adultério, como a tenção de criminar.

A acusada foi duas vezes para lá, e para cá, com um formoso sorriso no rosto, e sem nenhuma dor, ou queimadura nos seus pés; mas a outra mulher fazendo somente meio caminho para lá saltou logo do carvão afora, com uma grita de muita dor. Fora ela a tecer esta clara, e manifesta mentira, que quase acabara com tão honrada família.

El Rey vendo tudo isto ordenou logo ali a sua morte. E posto que a culpada com muitas lágrimas derramadas nos olhos lhe pediu misericórdia, pois o seu erro fora causado por cega cobiça, vendo a agora mulher livre de suas culpas o tamanho arrependimento no rosto dela, disse a Sua Alteza que a justiça já fora feita; porque a mentira ficara descoberta, e pena pior seria a desonra em que caíra”.

          Ⓒ Alberto Capparelli

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