sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

"O Oriente Místico de Chao Balós", Cap. XXXVII

Do que assentei com o capitão de Malaca

"D. Pedro da Silva, e o meirinho, me fizeram uma miúda inquirição, com a qual passei obra de duas horas em grande aperto. O dito capitão me ouviu bem, e parecendo-lhe que tinha justiça, disse que eu não fora ao Achem, e por isso já não havia de dar andamento às cousas crimes nem me mandar preso à cidade de Goa com autos de minhas culpas; mas que se fizesse as cartas de que eu estava tão necessitado, a modo de indo lá me haver com o Governador.

Vendo o Senhor Padre a mercê que Nosso Senhor me fizera, foi à Igreja dar-lhe muitas graças, e louvores, e entrando a nova nas orelhas dos Portugueses que estavam à porta da fortaleza, deram todos muitas graças, por me haver livre de pena alguma. Dando todos eles palmadas nas minhas costas, e muitos abraços, houveram de me agarrar nas pernas, e costas, e sobre os ombros de dois homens fui levado até ao baluarte que se chama do Bendara, onde os nossos deram fortemente nos inimigos, quando o Soltão do Achem mandou um seu capitão em Armada cometer a cidade de Malaca, como atrás fica dito.

Estimei muito o favor do meu bom amigo Dom Manoel Antunes, e a ele lhe fiz oferecimento de presente uns ricos panos de damasco, e um formoso colar de ouro, e pedraria. O qual presente não quis aceitar; mas tornando eu a insistir para o ter como dele, o tomou nas suas mãos, e o levou para sua casa com muito contentamento de sua pessoa. Tornando nós ao junco se fez uma grande festa, e um banquete, em que comemos, e bebemos, muy largamente”.

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