terça-feira, 14 de março de 2023

"O Oriente Místico de Chao Balós", Cap. XLI

Da ida derradeira à cidade de Goa

"Para não perdermos a monção nos fizemos prestes com todas as pressas, e aparelhados com todas as cousas necessárias a esta viagem, que nos proveu o capitão de Malaca, larguei deste porto, e prouve a Deus que fizéssemos boa viagem por nossas jornadas até à muy nobre cidade de Goa. Aqui chegados fui logo ao colégio de São Paulo a ver do Padre Antonio de Quadros, o qual me recebeu com mostras de muita amizade, e alegria.

Entregando-lhe a dita carta, como cumpria a meu serviço, e em a lendo ele, no outro dia pela manhã nos fomos com grande solenidade a falar com o Viso-Rey. Entrando nós os dois, o Padre Antonio de Quadros e eu, na formosa sala onde já estava Dom Francisco Coutinho, e outras pessoas principais, a ele lhe fiz a minha cortesia. Sabendo a minha graça pelo dito Padre, e quem eu era, e o que fazia, passei logo um mau bocado; porque se desviando do que havia a tratar, quis me atormentar com a grande ladroíce que eu fizera ao Achem, cousa que para ele fora muito ruim de se fazer, por não aproveitar ao serviço d’el Rey de Portugal.

Por quatro ou cinco vezes lhe tornei a dizer que havia um grande engano em tudo isto; porque tal feito não fora cometido por esta minha pessoa; mas por um malvado renegado Português, que muito fizera para me pôr em tamanha desgraça; porque nem se passando cousa de vinte anos as gentes esqueceram tão grande embuste”.

RETRATO: D. Francisco Coutinho, conde do Redondo, 8 Vice-rei do Estado Português da Índia.

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