sexta-feira, 17 de junho de 2022

"O Oriente Místico de Chao Balós", Cap. IV

Fala com Diogo da Silveira, capitão-mor da Armada:

"Soprava o vento ligeiro de Noroeste, quando no meu rosto surgiu um pajem muy embonecado, com recado do nosso capitão mor, que me queria falar. A Ruffino do Salvador pedi que cuidasse das minhas cousas da viagem, pelo meu grande receio que mais alguém as tomasse como suas. Cometido por uma arreliadora má disposição, esperançava que o mar Atlântico não prolongasse tão desajeitada coreografia de atazanar a nau com mais solavancos.

Seguindo detrás do pajem, foi ele bater à porta do camarote do meirinho, ali defronte da acomodação do escrivão, e passando os meus olhos no interior, assim que o dito meirinho abriu a porta, reparei que o catre olhava para a mesa, em cima da qual pousavam uns papéis desordenados, o tinteiro, e a pena de escrever. Num canto da banda de cá achava-se um círio, e por baixo da mesa, diante da cadeira de pau, ficava uma arca.

Dando o pajem recado, que o capitão mor lhe queria falar, arrumou o meirinho, com assaz de pressa, os papéis que pousavam na mesa, e logo que saiu do camarote fechou a porta, muito bem fechada, com sua chave. Indo nós, os três, muy solenemente até Diogo da Silveira, achava-se ele na sua câmara assentado numa cadeira de espaldas, ali defronte da mesa lacada, onde pousava o relógio de areia, e alguns papéis desarrumados, a par da carta de marear, com umas pinturas ao natural dos sítios, das feições da terra, e do mar oceano".

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