quarta-feira, 11 de maio de 2022

Desafios

“Tudo vale a pena. Se a alma não é pequena”,

Fernando Pessoa

Um dos primeiros desafios com o qual me deparei, assim que decidi enveredar pelo romance histórico, foi o estilo de escrita a adoptar. Será que deveria escolher a escrita em vigor no século XVI, um pouco adaptada aos dias de hoje? Ou deveria enveredar pela actual? E quanto à narração, seria melhor vertê-la na primeira ou na terceira pessoa? Optei pela mais desafiante: a escrita antiga (na primeira pessoa).

Ao pesquisar na internet, e passar os olhos por livros coevos dos séculos XVI e XVII, facilmente descarregáveis no formato PDF, tive imensa dificuldade em articular a leitura, porque a forma de escrita era algo a que não estava habituado. Havia depois que moldar o personagem e criar o enredo que o levasse ao Oriente, afinal o propósito primário do romance histórico…

Imediatamente, surgiram dúvidas e dificuldades inultrapassáveis, estas apenas imagináveis no meu íntimo, conforme o passar do tempo foi disso testemunha.”Oh, não sei nada sobre a vida do Portugal do século XVI. Como vou ultrapassar esta fase?”, questionei-me inicialmente fruto da avassaladora inexperiência nestas andanças. A mesma dificuldade chegou depois ao descrever a viagem da Carreira da Índia. Seguiram-se os capítulos referentes a Goa, Malaca, Samatra, e por aí adiante.

No primeiro ano completei 26 páginas no Word. Estas foram as mais difíceis de todo o romance, pois foram alvo de incontáveis alterações, cortes, acrescentos e revisões. Todas estas contrariedades foram superadas, com maior ou menor dificuldade, através de árduo trabalho, muita leitura e imenso tempo dedicado à pesquisa.

Para dar realismo à novela havia que despir a pele do homem dos séculos XX e XXI – no fundo, a minha pessoa – e tentar descrever, o melhor possível, a mentalidade do século XVI. Encarei este enorme desafio com grande vontade de aprender e ficar imerso no modo de vida de outrora, tendo por vezes a forte sensação de o ter vivido na primeira pessoa.

Actualmente, dá-me grande prazer ler aqueles livros coevos, que dão corpo a uma maravilhosa forma de escrita, por vezes bastante atabalhoada, mas que surpreende pela formosura das palavras empregues. Por incrível que pareça, também sinto grande à vontade para escrever ficção à moda antiga, o que será algo a evitar caso no futuro decida publicar um título que escape ao âmbito do romance histórico… 

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