“Tudo vale a pena. Se a alma não é pequena”,
Fernando Pessoa
Um dos primeiros desafios com o qual me deparei, assim que decidi enveredar pelo romance histórico, foi o estilo de escrita a adoptar. Será que deveria escolher a escrita em vigor no século XVI, um pouco adaptada aos dias de hoje? Ou deveria enveredar pela actual? E quanto à narração, seria melhor vertê-la na primeira ou na terceira pessoa? Optei pela mais desafiante: a escrita antiga (na primeira pessoa).Ao pesquisar na
internet, e passar os olhos por livros coevos dos séculos XVI e XVII,
facilmente descarregáveis no formato PDF, tive imensa dificuldade em articular
a leitura, porque a forma de escrita era algo a que não estava habituado. Havia
depois que moldar o personagem e criar o enredo que o levasse ao Oriente,
afinal o propósito primário do romance histórico…
Imediatamente, surgiram
dúvidas e dificuldades inultrapassáveis, estas apenas imagináveis no meu
íntimo, conforme o passar do tempo foi disso testemunha.”Oh, não sei nada sobre
a vida do Portugal do século XVI. Como vou ultrapassar esta fase?”,
questionei-me inicialmente fruto da avassaladora inexperiência nestas andanças.
A mesma dificuldade chegou depois ao descrever a viagem da Carreira da Índia. Seguiram-se
os capítulos referentes a Goa, Malaca, Samatra, e por aí adiante.
No primeiro ano completei
26 páginas no Word. Estas foram as mais difíceis de todo o romance, pois foram
alvo de incontáveis alterações, cortes, acrescentos e revisões. Todas estas
contrariedades foram superadas, com maior ou menor dificuldade, através de árduo
trabalho, muita leitura e imenso tempo dedicado à pesquisa.
Para dar realismo à
novela havia que despir a pele do homem dos séculos XX e XXI – no fundo, a
minha pessoa – e tentar descrever, o melhor possível, a mentalidade do século
XVI. Encarei este enorme desafio com grande vontade de aprender e ficar imerso
no modo de vida de outrora, tendo por vezes a forte sensação de o ter vivido na
primeira pessoa.
Actualmente, dá-me
grande prazer ler aqueles livros coevos, que dão corpo a uma maravilhosa forma
de escrita, por vezes bastante atabalhoada, mas que surpreende pela formosura
das palavras empregues. Por incrível que pareça, também sinto grande à vontade para escrever ficção à moda antiga, o que será algo a evitar caso no futuro decida
publicar um título que escape ao âmbito do romance histórico…
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