segunda-feira, 11 de julho de 2022

Capítulo VII

 O triste fim de um grumete:

"Num destes dias de grande tédio, por sinal de má memória, caiu à água do mar o grumete, por nome Martim da Gallega, que pouco sabia nadar. Os gritos do infeliz causaram logo grande alvoroço, e posto que alguns embarcados lhe atiraram com prontidão duas pipas, e algumas cordas, e com isso feito o desgraçado se manteve à tona de água muito esforçadamente, chegou tarde o salvamento; porque sendo o dito grumete trazido para o convés, passada que estava uma hora e meia de sua triste queda, deu com assaz agonia o derradeiro suspiro no braço do Padre Lançarote. 

Confessando-se, a muito custo, pouco antes de partir desta vida temporal, escorreram em nós muitas lágrimas de alegria pelo consolo de sabermos que não perdera a vida eterna. Paz à sua alma! A morte do dito grumete levantou suspeita, e o mareante que mostrou resistência ao socorro (o tal que muito o repreendia, e muito lhe batia) foi achado culpado. Em boa verdade fora eu quem dissera ao meirinho o que ouvira do próprio Martim da Gallega, acerca das ameaças que tivera do rude marinheiro:

– Temia muito ser mandado borda fora no breu da noite, se botasse faladura do concerto havido entre os corruptos marinheiros, e a horrível mulher com o cabelo curto, a que fora achada roupada como homem...”


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