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sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Capítulo XVIII

Do que mais sucedeu até Nuno da Cunha chegar à Índia como governador:

Pero de Faria, arrebatado por uma grande ira, mandou chamar o Governador, o qual chegando com os seus à rua de São Jorge viu grande cópia de gente (onde também se achava esta minha pessoa), com muitas lanças, e alabardas, nas mãos: a qual gente acorria à causa de Heytor da Silveira. Vendo o Governador que Heytor da Silveira se achava com os seus partidários, e pelo risco em que tudo ficava, rompeu muy supitamente pela gente, com o propósito de chegar defronte das casas. Diogo da Silveira chegando-se ao balcão fez uma fala desta maneira para quem na rua estava pelo seu primo:

Não vedes, Senhores! Isto, que quer Lopo Vaz, que aí está, tomar por força a governança da India, a cuja é, mas não é bem que lhe consintam.

Entrando-me isto pelas orelhas, tirei logo a adaga da cinta, pois era minha determinação chegar à beira do Governador, e fazer justiça por minhas próprias mãos. Havia que lhe dar este merecimento o quanto antes para salvação da nossa India, e glorificar o trabalho d’el Rey de Portugal, que arruinado já estava com Lopo Vaz de Sampayo. Com tudo fui logo agarrado nas mãos, e peito, por Saipe, e outros dois marinheiros da minha esquipagem, os quais me rogaram para não começar esta briga; porque dela poderíamos sair muito mal tratados, e com risco de nossa própria vida”.

quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Capítulo XVII

As diferenças entre Lopo Vaz de Sampaio e Pero Mascarenhas:

Neste ano de 1526, zarpava de Portugal mais uma armada da Carreira da Índia, com duas novas sucessões, enviadas por el-Rei D. João III, ao governador D. Henrique de Menezes, após o monarca ter recebido a notícia, em Outubro do ano anterior, da morte de Vasco da Gama, e respectiva sucessão. Eram capitães desta armada Francisco de Anhaia, Tristão Vaz da Veiga, António de Abreu, Vicente Gil e António Galvão (não houve capitão-mor).

Chegando os dois primeiros a Cochim com as vias de sucessão, não quiseram entregá-las a Afonso Mexia, dado que não podiam fazê-lo a D. Henrique de Menezes, que já tinha falecido, nem a Pero Mascarenhas, que era o legítimo governador, mas estava em Malaca. Tal facto não demoveu o vedor da fazenda, que depois de convencê-los a muito custo do contrário por requerimentos e debates chamou a si a responsabilidade de abrir as sucessões, que indicavam Lopo Vaz de Sampaio como governador na morte de D. Henrique de Menezes, e António de Miranda de Azevedo como capitão-mor do mar, enquanto Pero Mascarenhas sucedia a Lopo Vaz de Sampaio na sua morte.

Num alvará solto que Afonso Mexia encontrou nas vias, D. João III explicava a D. Henrique de Menezes, e ao vedor da fazenda, que não se usasse as sucessões dos governadores que estavam na Índia, mas que as enviasse fechadas no segredo em que estavam. E se as novas sucessões não chegassem à Índia e falecesse D. Henrique de Menezes, também não seriam abertas as antigas, dado que governava Lopo Vaz de Sampaio até chegarem as novas, sendo então governador quem nelas fosse nomeado. Deste alvará se disse que fora falseado, e metido nele esta parte de dizer que Lopo Vaz governasse até virem as sucessões novas, assinalou Gaspar Correia”.

terça-feira, 9 de agosto de 2022

Momento Quora

"Por que o primeiro capítulo de um livro ou romance é o mais importante e difícil de escrever?" Veja a minha resposta à pergunta do Quora: https://qr.ae/pv5sqd

Tive essa experiência ao escrever o meu primeiro romance histórico, "O Oriente Místico de Chao Balós"

O início da narrativa é de primordial importância para atrair ou cativar o leitor. Se é apelativo, certamente cresce o desejo de continuar a leitura.

Diria que os primeiros dois/três capítulos da minha obra - num total de 43 - foram os mais difíceis de compor, com incontáveis revisões, cortes e acrescentos, no estilo de escrita coeva e na gramática. Hoje consigo perceber que a maior dificuldade sentida foi por as personagens e a trama estarem ainda numa fase bastante embrionária.

À medida que a escrita foi avançando, também o processo de amadurecimento e conhecimento histórico sobre vários temas versados no livro foi aumentando consideravelmente, sendo por isso imperativo fazer as devidas correções (sempre que justificáveis).

Tive muito menos dificuldades nos restantes capítulos. Alguns, mesmo, foram bastante fáceis de redigir, pois já tinha uma ideia definida sobre que rumo a dar à história; pela experiência adquirida no estilo de escrita; e pela visão mais clara sobre os acontecimentos da época.

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Primeiro Esboço

O primeiro esboço da capa para o romance histórico “O Oriente Místico de Chao Balós” pela mão do conceituado cartoonista Rodrigo de Matos (Rodrigo Cartoon).



domingo, 17 de julho de 2022

Capítulo IX

 Perigo de Vida:

"Abatido pela fadiga, que resultava de largas semanas de viagem no mar alto, foi numa certa tarde ventosa de me causar assaz de aborrecimento que aproveitei para tomar algum repouso; porém depressa acordei sobressaltado, por causa da ondulação que teimava em sacudir a nau. Cuidei em tomar o ar fresco no convés; mas o vento soprava muito rijo de Norte, e o sol mal alumiado queria muito nos deixar à sorte. O cheiro fétido a pairar no ar era sinal mais do que aprovado que o diabo esfregava as mãos de vil satisfação, por estar muy pronto a reclamar mais algumas almas para as profundezas do Inferno.

Fiquei muy assustado quando meteu tanto mar no costado, que mais parecia que a nau ia ao fundo a cada balanço que dava, e mais temeroso fiquei quando arreei os joelhos no tabuado logo após o embate de outra vaga de água no costado. Havia que sair deste horrível lugar, o quanto antes, e tomar abrigo em parte segura. Com assaz de pressa quis galgar para o chapitéu de popa; mas ao agarrar as madeiras da nau, para não perder o equilíbrio, fiquei com o rosto tomado pelo horror; porque uma grandíssima tromba de água varreu o convés, sem dela escaparem quatro marinheiros. A morte chegara muy apressada para eles!

Pus os olhos no céu, neste mesmo instante, tinha a roupa toda encharcada pela água da chuva. O vento rijo não queria repousar em nenhuma parte, e o frio a bater no rosto era sinal que a morte não guardava segredos nesta latitude. Quanto mais a nave cambaleava na fúria da tempestade maior era o medo de perdermos o leme. Roguei a Deus para que os dois homens muito rijos, que meneavam o leme com muy esforço de suas pessoas, o fizessem de contínuo, sem nunca levantar as mãos dele”.

quinta-feira, 14 de julho de 2022

Capítulo VIII

 Mortes a lamentar:

"Os tementes a Deus, com os joelhos prostrados defronte do altar, rompiam os ares com a voz em grito, pedindo-Lhe misericórdia para ficarem em salvo das enfermidades, assim como dos medos, e anseios, que tomavam conta das suas almas. Nem todos iam ter a felicidade de passar à India, pois havia mortes a lamentar pelo caminho. E sendo a que mais horror causou nos embarcados lembro agora o falecimento do barbeiro Francisco Tomé, que deu o último suspiro após a quinta sangria, que lhe fez um grumete no derradeiro dia de sua vida; posto que nem menos cinquenta onças de sangue terminaram com a grande tormenta da febre, que muito o afligia.

Chorei mil lágrimas quando o corpo do defunto, envolto numa mortalha, e com uma bola atada nos pés, foi lançado ao mar pouco depois de ser lembrada a sua habilidade para arrancar os dentes estragados dos embarcados. Francisco Tomé faleceu desta vida com mostras de muito bom cristão, o que a todos nos animou, e muito nos consolou”.


segunda-feira, 11 de julho de 2022

Capítulo VII

 O triste fim de um grumete:

"Num destes dias de grande tédio, por sinal de má memória, caiu à água do mar o grumete, por nome Martim da Gallega, que pouco sabia nadar. Os gritos do infeliz causaram logo grande alvoroço, e posto que alguns embarcados lhe atiraram com prontidão duas pipas, e algumas cordas, e com isso feito o desgraçado se manteve à tona de água muito esforçadamente, chegou tarde o salvamento; porque sendo o dito grumete trazido para o convés, passada que estava uma hora e meia de sua triste queda, deu com assaz agonia o derradeiro suspiro no braço do Padre Lançarote. 

Confessando-se, a muito custo, pouco antes de partir desta vida temporal, escorreram em nós muitas lágrimas de alegria pelo consolo de sabermos que não perdera a vida eterna. Paz à sua alma! A morte do dito grumete levantou suspeita, e o mareante que mostrou resistência ao socorro (o tal que muito o repreendia, e muito lhe batia) foi achado culpado. Em boa verdade fora eu quem dissera ao meirinho o que ouvira do próprio Martim da Gallega, acerca das ameaças que tivera do rude marinheiro:

– Temia muito ser mandado borda fora no breu da noite, se botasse faladura do concerto havido entre os corruptos marinheiros, e a horrível mulher com o cabelo curto, a que fora achada roupada como homem...”


sábado, 9 de julho de 2022

Capítulo VI

O terrível pairo:

"Com a nau ao pairo chegaram os fortes calores, as doenças tomaram conta dos desafortunados, e muitos passageiros foram tomados pelo enfadamento. Tanto estragada ficou a maior parte das cousas de comer; porque tanto fervia o azeite, o mel, a manteiga, e a marmelada, assim como corrompida no sabor se achou a fruta passada, e outras cousas da nossa alimentação. A água das pipas, parecendo criar bichos, era de tão mau cheiro, que para evitarmos a revolta das entranhas a bebíamos em pequenos goles, com os olhos fechados, e o nariz tapado.

A falta de água doce era a maior preocupação do Padre Miguel Lançarote (ficou como enfermeiro certo para o resto da viagem); porque sem ela não sossegavam os maus humores dos enfermos nem se cozia a carne de galinha para fazer o caldo que muito socorro dava à cura de todos eles. Mas como era desolador ver a frota rodeada por tanta água do mar oceano, que para nada servia, nem para saciar a sede nem para a cozedura dos alimentos, tão pouco para lavar o corpo!


 

segunda-feira, 30 de maio de 2022

Excertos da minha obra...

Olá a todos! Durante os próximos meses vou publicar excertos da minha obra. Incluirá o prólogo, 43 capítulos e o epílogo. Espero que se divirtam.

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