quinta-feira, 14 de julho de 2022

Capítulo VIII

 Mortes a lamentar:

"Os tementes a Deus, com os joelhos prostrados defronte do altar, rompiam os ares com a voz em grito, pedindo-Lhe misericórdia para ficarem em salvo das enfermidades, assim como dos medos, e anseios, que tomavam conta das suas almas. Nem todos iam ter a felicidade de passar à India, pois havia mortes a lamentar pelo caminho. E sendo a que mais horror causou nos embarcados lembro agora o falecimento do barbeiro Francisco Tomé, que deu o último suspiro após a quinta sangria, que lhe fez um grumete no derradeiro dia de sua vida; posto que nem menos cinquenta onças de sangue terminaram com a grande tormenta da febre, que muito o afligia.

Chorei mil lágrimas quando o corpo do defunto, envolto numa mortalha, e com uma bola atada nos pés, foi lançado ao mar pouco depois de ser lembrada a sua habilidade para arrancar os dentes estragados dos embarcados. Francisco Tomé faleceu desta vida com mostras de muito bom cristão, o que a todos nos animou, e muito nos consolou”.


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